Padre Almada dialoga com os alunos do “Liceu”: “Eu não sou só razão, sou mais alguma coisa…”

Um jovem que pensou um dia ser médico e que hoje é sacerdote. A dada altura do seu percurso, tão distante dos preceitos católicos, a fé venceu e o chamamento aconteceu. Chama-se padre Carlos Almada, é reitor da Igreja do Colégio do Funchal e partilhou com os estudantes do 12.º ano de escolaridade dos Cursos de Educação e Formação (turmas CEF1,2 e 3) da Escola Secundária Jaime Moniz as suas reflexos sobre um tema, por vezes, tão fraturante e controverso como é a Fé e a Razão.

Conhecido pelo diálogo fácil e plural com os jovens, dada a rodagem como também reitor do Seminário Diocesano do Funchal, além de que foi o rosto principal da delegação da Madeira nas Jornadas Mundiais da Juventude, Carlos Almada partiu para o debate de mente aberta, mas com convicções firmes, despoletando com facilidade a participação ativa dos discentes e até mesmos dos docentes.

O tema central brotou da disciplina de Português, no âmbito dos conteúdos programáticos da obra Mensagem de Fernando Pessoa e do romance de José Saramago, o Ano da Morte de Ricardo Reis. Lá vai o tempo, tempo de Galileu, em que a religião e ciência não andavam juntas. Depois deste introito, o preletor procurou mostrar que a fé é um conjunto de crenças que leva alguém a acreditar em algo, muito para além de uma evidência. Aliás, falar de fé é muito mais do que falar de religião católica. Pela razão, analisamos factos. Mas a fé vai muito mais longe.  Por exemplo, há relatos históricos da existência de Camões. Não precisamos de ter fé para acreditar nisso. Mas já é preciso ter fé para acreditar na essência da sua escrita, no universo de deuses e ninfas que pululam na sua poesia. O mesmo acontece com Jesus. Camões e Jesus são figuras históricas, existiram, há registos históricos. Mas quando já se fala nos milagres de Jesus, nomeadamente na sua ressurreição, já se entra no domínio da fé.

Por outro lado, o padre Almada clarificou que, uma coisa é ter uma vivência pessoal da fé, outra coisa é a base da fé da igreja, o Credo. Muitas vezes, confundem-se estes planos, porque a vivência da fé é algo que varia de pessoa para pessoa. 

Na parte final, o debate tornou-se rico com a partilha das questões dos alunos e dos docentes sobre as verdades da Bíblia, a caminhada da Igreja e os seus erros e virtudes, entre outras questões polémicas que marcam também a atualidade.