“Orgulho-me de ser aluna da nossa escola”

Leonor Nunes, aluna distinguida pelas notas obtidas no 12.º ano, marcou presença na cerimónia e leu um texto da sua autoria, titulado “Orgulho-me da Nossa Escola”, partilhando a experiência inesquecível de ter entrado em 2020 e saído em 2023 com um espólio pessoal riquíssimo de memórias e aprendizagens. De forma criativa e sentida, a agora estudante universitária de Direito, traçou um roteiro mental de um dia de aulas comum no “Liceu”, o qual temos o orgulho de partilhar:

“Liceu Jaime Moniz ou Escola Secundária Jaime Moniz, nascido em 1837, nesse ano com a designação de Liceu Central do Funchal e instalado na Rua dos Ferreiros com apenas 44 alunos a frequentá-lo. Hoje, e quase dois séculos depois, afigura-se como uma das maiores escolas secundárias do país, tendo por ela passado tantas pessoas de grande relevo que se destacam no panorama regional e até nacional.

Também hoje, eu que fiz até ao ano passado parte deste elenco tão numeroso de alunos, posso dizer que me orgulho de ter sido aluna do Liceu. Talvez por ouvir conselhos familiares ou por ter escolhido o curso de ciências e tecnologias, preferi inscrever-me nesta escola e não noutra, no entanto, sei que foi a melhor escolha que fiz e asseguro-me disso. É tão claro que assim foi porque a Leonor que entrou aqui em 2020 não reconheceria a Leonor que saiu em 2023. Foi no Liceu que cresci, evoluí e atingi objetivos que nunca pensei que fossem alcançáveis. Consegui fazê-lo com a ajuda dos melhores professores, que considero de facto os mais competentes e capazes de mostrar aos alunos os aspetos mais cativantes da sua disciplina. Para além disso, com os meus amigos, os quais farão sempre parte da minha vida, porque mesmo que não fisicamente, ficarão guardados como uma memória dos melhores anos da minha vida. Sim, foram na verdade os melhores.

E agora, passo a fazer-vos um roteiro mental de um dia de aulas no liceu, é como se fechassem os olhos e o conseguissem ver. Entro pela entrada dos alunos, e ando um pouco pelo exterior até chegar ao edifício principal e mostrar o cartão, altura em que de facto já estou no interior. Dou mais uns passos, e olho para a esquerda, a reprografia, espaço no qual não sou autorizada a entrar pela minha mãe, exceto quando umas duas vezes tive de a ajudar a carregar uns livros, e depois para a direita e vejo as “100”, as melhores salas, onde tinha aulas no 10ºano – lá está a professora Marta a chamar os alunos para entrar e para discutir a biodiversidade. Mas não é para aí que vou, subo então pelas escadas e chego ao segundo piso, não tão adorado como o primeiro, mas significa que estou no 11ºano, e talvez vá ter com a minha mãe à entrada dos professores, ou então tenho de ir até ao ginásio para a minha aula de educação física, e passo pelo museu e olho para as caras ilustres que aqui já passaram, e espero que um dia lá esteja a minha fotografia. Daqui a pouco tenho aula nos laboratórios do 3º piso e é para lá que vou, mas antes digo “boa tarde” ao Sr. João porque sei que sem ele e as senhoras funcionárias a escola não existiria. Vou então para a aula de biologia e depois tenho intervalo, o qual é passado no pátio. A aula seguinte é na 304 com a professora Quitéria que me ensina a história mágica de Baltasar e Blimunda, mas lembro-me que agora estou no 12º ano e ainda não fui ao anexo, então desço a escadaria toda e é para lá que me dirijo. Passo primeiro pelo campo de futebol, onde me lembro que passei o secundário todo sem nunca ter feito a milha, embora tenha corrido nas aulas da professora Rufina muito mais do que isso. Entro então naquela espécie de casinha tão especial e acolhedora que é o anexo para ter a última aula do dia com a professora Geralda. Saio de lá com algum apetite e preciso de ir ao bar, mas antes preciso de passar pela sala de esgrima para ensaiar com a professora Vanda, a peça de teatro que vamos apresentar na semana dos clubes e projetos. Depois disso, vou ao bar, mas lembro-me que, entretanto, já concluí o secundário e… boa, consegui!! Então apercebo-me que cheguei ao dia de hoje e aqui estou na sala de conferências para vos ler este texto.

Dizia então Fernando Pessoa a frase “Vivemos da memória, que é a imaginação do que morreu”, mas para mim a experiência de ter sido aluna do liceu, embora apenas uma memória, é a mais viva que tenho, e vai continuar a ecoar enquanto a puder reproduzir na minha mente. Sinto-me sinceramente privilegiada por ter frequentado o liceu e não mudaria nada no meu percurso, porque sinto que todos os momentos irrepetíveis conjugados entre si culminaram num novo “eu”, que acredito ser a melhor versão de mim própria.

Assim, em forma de conclusão, e aludindo também aos meus colegas mais novos, que têm desempenhado um trabalho de excelência até agora, espero que continuem o vosso desempenho com esforço e dedicação, sabendo que para além de serem um orgulho para vocês próprios, são-no também para a escola, e esse sim é o maior motivo de encorajamento. A melhor parte de ser um aluno do liceu é saber que estes três anos só acontecem uma vez, e por isso é fulcral aproveitar cada instante não só com a intenção de que ele nunca se repetirá nem voltará para o revivermos, mas sobretudo tendo a noção de que ele contribuirá como mais um degrau na construção da história centenária desta escola.

Funchal, 31 de janeiro de 2024

Leonor Rodrigues de Ornelas Nunes, ex-aluna do Curso de Ciências e Tecnologias”